Estava eu em casa lendo uma coletânea de textos de um curso de formação
de professores, e me deparei com um texto de Rosângela Veliago, que de uma
maneira simples mexe com o nosso eu formador de leitores, e nos faz pensar em
quantos erros cometemos com nossos alunos, por falta de saber se colocar como
aluno também, que de fato somos, uma vez que estamos sempre a voltas com
cursos, especializações, aperfeiçoamentos, etc.
Em seu texto ela cita que a leitura deve ocupar o horário nobre da aula. E
de fato precisa, deve ser assim, a sala de aula é o espaço escolar em que os
alunos ficam mais tempo, e nós professores devemos encontrar em nossa prática
um momento diário desse encontro deles com a leitura, e muitos de nós neste
momento pensamos “ eu faço isso, faço a leitura deleite todos os dias”, mas em
um mundo onde a leitura é tão forte para o nosso papel de cidadão, de ser
integrante e ativo da sociedade, nossos alunos precisam de mais, muito mais do
que 20 minutos de histórias.
Formando-se leitor e
formando leitores (Rosângela Veliago)
É comum que leitores inveterados tenham muitas histórias para contar a
respeito de sua experiência doméstica com a leitura e bem pouco a dizer acerca
de sua relação com os livros no espaço escolar. Certa vez ouvi uma história que
retrata bem o que a leitura pode representar para alguém pequeno, que ainda não
a domina por si mesmo.
A cena se passava numa antiga fazenda, onde a energia elétrica era
desligada diariamente ás 20 horas. A matriarca da família adorava ler novelas. Seu
esposo então improvisou um sistema que permitia manter uma luz acessa. Enquanto
a mãe tricotava, o pai lia os capítulos das fantásticas novelas. E as crianças,
que eram obrigadas a deitar assim que a energia era desligada, também se
deliciavam com a leitura que inundava toda a casa.
É preciso que os professores ajudem as crianças a descobrir nos textos
sua face mais pessoal e prazerosa, sua dimensão mais encantadora e envolvente.
Ler, como qualquer aprendizagem, requer dedicação: por isso os alunos
devem ter a oportunidade de encarar o livro como um desafio interessante que
abrirá portas, não só para o conhecimento, mas também para o entretenimento e a
diversão.
A prática de leitura na escola precisa se assemelhar à prática da leitura
fora da escola. As crianças precisam saber que lemos por diferentes razões e
que não lemos todos os textos da mesma forma.
Ler para as crianças é uma atividade fundamental: elas merecem que os
adultos leiam diariamente para elas. É ouvindo contos, fábulas, mitos, notícias
ou poemas, enquanto ainda não sabem ler autonomamente, que elas podem ter
acesso a tudo que a escrita representa, além de aprender muito a respeito da
linguagem que se usa para escrever.
Antes de ler um texto para classe, o professor precisa conhecê-lo, para
que possa comentar as razões de sua escolha e demonstrar seu interesse de
leitor em compartilhar suas descobertas.
Para motivar a classe, é possível criar situações que despertem uma emoção
especial, por exemplo, ler uma história “de medo” em um lugar escuro,
modificando a entonação da voz. Ler não deve ser uma atividade extra- quando
sobra tempo, quando a classe está muito agitada ou quando faltaram muitos
alunos. A leitura precisa ocupar o horário nobre da aula.
“Muitos alunos talvez não tenham
muitas oportunidades, fora da escola, de familiarizar-se com a leitura; talvez
não vejam muitos adultos lendo, talvez ninguém lhes leia livros com frequência.
A escola não pode compensar as injustiças e as desigualdades sociais que nos
assolam, mas pode fazer muito para evitar que sejam acirradas em seu interior. Ajudar
os alunos a ler, a fazer com que se interessem pela leitura, é dotá-los de um
instrumento de aculturação e de tomada de consciência cuja funcionalidade
escapa dos limites da instituição”
Isabel Solé, O prazer da leitura.
Mesmo quando as crianças ainda não sabem ler, a sala de aula deve ter um
espaço com livros, revistas, jornais, folhetos e histórias em quadrinhos, para
poderem folhear a vontade, sem que alguém fique perguntando o que estão
entendendo.
Enquanto isso é importante que o professor também leia seu próprio livro,
revista ou jornal. É imprescindível que as crianças percebam que ler é uma
atividade importante e que o adulto também gosta de realizá-la.
Nós, alunos e professores, precisamos descobrir ou redescobrir que ler
pode, e deve, ser uma maravilhosa aventura.